Wednesday, January 17, 2007

Excertos do comentário de Maria Alzira Seixo à edição O Processo das Virgens, intitulado: Singularidades Dum Texto Verídico


«Lemos: O Processo das Virgens. Feliz título que nos agarra na sua contradição e simultânea culpabilidade e inocência.»

«O texto: exclusivamente constituído por três processos jurídicos, instaurados em Lisboa entre os anos de 1966 e 1969, mais as disposições legais que, em 1971, concluem um deles e estabelecem a sua ligação à vida civil. Narrador: o escrivão de serviço. Autor: o editor que, à maneira dos mais puros tempos do romantismo literário, desenterra os documentos dos arquivos, os selecciona, justapõe e dá a lume. Comentários seus de momento conhecidos: apenas os títulos, quer do volume, quer das quatro partes (processos e «final») ou «capítulos» - o título geral, cujo enredado ainda não analisámos completamente, e o subtítulo «Aventuras, Venturas e Desventuras Sexuais em Lisboa nos últimos anos do Fascismo», que recorda imediatamente uma realidade próxima e abafada e que assim assume ao mesmo tempo a condição de denúncia política e de análise objectiva da sociedade contemporânea como Zola a enunciara.»

«...temos, a par do condicionamento social e político, um acervo de conotações literárias, e mais largamente culturais, que podem modelar a apreensão do volume.»

«Na verdade, e se descontarmos a monotonia repetitiva das fórmulas de inquirição, de toda esta série se pode ler como se de um romance se tratasse, romance «sui generis» mas que, quer pela expressão, quer pelo conteúdo, tem antecedentes aproximados na história da literatura.»

«Três códigos aqui se interpenetram, bem entendido: o erótico, o jurídico e o social.»

«Porque se trata de uma publicação que só depois de uma viragem política se pode fazer – e, como tal, reveste-se de certa caracterização sensacionalista; por outro lado, o seu interesse documental é enorme e, a ser entendida com seriedade, muitas, conclusões, não de todo, esperadas, poderemos aproveitar, a sua consideração. O sentido da oportunidade, a tentativa de denúncia, o entendimento do que pode ser um objecto de interesse (nas suas múltiplas acepções...) social justificam esta edição.»